Consequências em
termos de sintomas :
A principal consequência da
secura ocular consiste na incapacidade das lágrimas de realizarem a sua
função de protecção e regeneração da superfície ocular. Nestas
circunstâncias, a superfície ocular não se pode proteger do efeito de
secagem do ar, assim como de outros factores que perturbam o filme
lacrimal (fumo, pólenes, calor, etc…). O resultado será a insuficiência de
lágrimas originada por uma produção insuficiente ou evaporação excessiva,
características de alguns tipos de secura, ou por uma disfunção das
pálpebras (pestanejo imperfeito ou incompleto), ou mesmo por uma
combinação de todas estas situações.
Deste modo, pode observar-se
nas securas ligeiras:
Desconforto visual, fotofobia, sensação de corpos estranhos e/ou de
queimadura, irritação da conjuntiva e da córnea, visão irregular, cansaço
e peso.
E nas situações mais
graves, para além do que já foi referido acima, também:
Ulcerações, queratites superficiais, dores agudas, fotofobia estrema,
perdas visuais devido às ulcerações centrais e opacificação da córnea.
Consequências confirmadas segundo o ângulo clínico :
A consequência do ponto de
vista clínico consiste na identificação de uma anomalia da quantidade de
lágrimas produzida (inferior 1,2 μl/min) ou da qualidade do filme
lacrimal, tempos de ruptura lacrimal inferior a 15 segundos, sobretudo
inferior a 10 segundos.
Existem vários testes para
evidenciar a disfunção lacrimal e as consequências sobre a superfície
ocular : Teste de Schirmer, teste de coloração ou impregnação fluorescene,
rosa de Bengala e Lissamine verde. Outros métodos como a quantificação da
osmolaridade do filme lacrimal, o vídeo tear-scope ou a impregnação
conjuntival ou corneal são mais raramente utilizados clinicamente.
O teste de Schirmer, teste
de base para avaliar a função lacrimal, consiste em colocar uma tira de
papel padronizada no fundo do saco conjuntival durante 3 minutos. A
lágrima é considerada insuficiente se o papel for impregnado com menos de
10 milímetros de lágrimas. O teste é realizado, por vezes, sob anestesia
mas o valor da referência é diferente. De salientar, que este teste não
tem mais do que um valor parcial e não permite definir a qualidade das
lágrimas e sim apenas a quantidade de lágrimas produzidas.
O teste fluorescina permite
medir o tempo de ruptura do filme lacrimal (a expressão em inglês é
break-up time - BUT), o que consiste em medir o tempo em que a lágrima
permanece na superfície ocular até se romper, decompor ou evaporar, esta
medição faz-se visualmente com uma lâmpada de fenda ou através de um
oftalmoscópio. O paciente não deve pestanejar enquanto o oftalmologista ou
técnico faz a contagem dos segundos até à ruptura do filme lacrimal, a
partir do qual o epitélio da córnea ficará exposto ao ar. Se o tempo de
ruptura for inferior a 15 segundos, a quantidade e, sobretudo, a qualidade
das lágrimas não é suficiente.
A observação directa permite
também identificar outros elementos que constituem prova da síndrome: a
diminuição de altura do lago lacrimal, queratite pontuada superficial
(KPS), filamentos, hipertrofia das pálpebras, lacrimação, vermelhidão,
etc…
Ainda que alguns testes
identifiquem de forma mais ou menos eficaz a existência de uma secura
ocular, raramente identificam de forma total as queixas dos pacientes, as
quais são muitas vezes adjectivadas de “subjectivas”.
Assim sendo, é útil ter em
conta o que o paciente pode ter a dizer sobre o que sente e quais os
sintomas que descreve, algumas situações podem sugerir a existência de uma
secura ocular, tais como: sensação de corpos estranhos, lacrimejar, ardor,
visão turva, sensação de cansaço, olhos vermelhos.
Consequências visuais :
As consequências visuais são
muito variáveis, as quais vão desde o simples desconforto ligado à
instabilidade das lágrimas até à cegueira em casos muito graves (e
certamente muito raros, mas mesmo num quadro que vise tranquilizar
psicologicamente os casos ligeiros muitas vezes acompanhados de ansiedade
é de referir que os casos muito graves não são inexistentes e merecem
serem reconhecidos…).
As síndromes muito graves e
mal acompanhados podem conduzir à cegueira por ulceração e opacificação
sucessiva como vimos anteriormente. Estes síndromes de secura que podem
provocar cegueira são muitas vezes ligados às patologias graves que
abordámos como Stevens –Johnson, queratite neurotrófica, a doença
associada ao enxerto de medula ossea, etc…
De qualquer modo, preferimos
assumir o risco de inquietar injustamente as pessoas ansiosas
sobreavaliando a sua síndrome de olho seco, que passar totalmente em
silêncio que certas síndromes de olho seco podem potencialmente provocar a
cegueira, devendo por isso ser uma prioridade de saúde pública e de luta
contra o “handicap”.
Não esquecemos as “infelizes
raras excepções” que são os nossos membros…
Consequências sociais :
A margem de gravidade dos
sintomas varia muito e a aparente banalidade do termo assimilado
essencialmente para os casos ligeiros é muito penalizante para os casos
graves. Para compreender os casos mais graves da síndrome do olho seco,
leia por favor o capítulo sobre Handicaps Invisíveis.
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