Post-LASIK: uma forma de queratite
neurotrófica ?
As
operações refractivas à miopia, hipermetropia e astigmatismo são muitas das
vezes apresentadas como uma libertação de todas as restrições e limitações, as
quais se prendem essencialmente à utilização de óculos e lentes.
Contudo, o lasik e todas as outras
cirurgias refractivas – PRK, Excimer, Lasek, são intervenções invasivas e como
tal apresentam riscos, os quais podem ser mais ou menos importantes de acordo
com a sensibilidade e condições individuais de cada paciente.
O aparecimento de uma secura ocular de
curto ou longo prazo pode ser um dos efeitos, assim como as dificuldades de
cicatrização.
A Keratos recebe várias perguntas sobre
fazer ou não a operação, claro que a associação não pode responder a esta
questão, apenas dar uma opinião geral sobre o assunto.
A decisão de realizar deve ser tomada com
base na opinião de um oftalmologista e pertence, em último lugar, ao paciente
embora a responsabilidade incumbe ao oftalmologista de definir se o paciente
reúne as condições necessárias para efectuar a operação.
De qualquer modo, a Keratos enquanto
associação não pode deixar de desaconselhar a operação por motivos estéticos,
uma vez que existe um risco mesmo para pessoas que, à partida, reúnam as
condições necessárias para efectuarem a operação. Mesmo que algumas complicações
graves apenas sejam registados numa minoria de casos, é de referir que
complicações como a secura, muitas das vezes subestimadas pelos oftalmologistas,
podem constituir um verdadeiro handicap, assim como a dificuldade de
cicatrização devida à perda de sensibilidade das córneas.
A Keratos tem
entre os seus membros alguns exemplos dessa minoria de casos…muitas vezes
silenciosa…mas cremos que em maior número do que aparentemente se pensa.
(Ver Testemunhos)
Segundo a
literatura médica a cirurgia refractiva é desaconselhada em pessoas que sofram à
partida de secura ocular ou qualquer disfunção lacrimal ou que tenham
dificuldades de cicatrização. Pode ter interesse procurar mais do que uma
opinião, nomeadamente de oftalmologistas independentes (que não realizam as
cirurgias refractivas). No caso de existir qualquer
reticência sobre o seu caso por parte de um médico, o melhor talvez seja não
realizar a cirurgia, pelo menos se as razões forem puramente estéticas.
Salientamos que a oftalmologia moderna é capaz de corrigir os defeitos de visão
mas ainda não é capaz de restabelecer a perda de sensibilidade ou o correcto
funcionamento do sistema lacrimal nos casos em que o organismo não se
reequilibra por ele próprio. Viver a colocar gotas nos olhos não nos parece ser
panaceia, até porque é, muitas vezes, insuficiente.
Sobre o impacto
da secura e problemas de cicatrização na qualidade de vida, os nossos membros
são os “melhores peritos” sobre a matéria ;-).
Informações e links úteis sobre
secura ocular provocada pela cirurgia refractiva :
LASIK é a abreviatura de Laser In situ
Keratomileusis, e consiste numa operação refractiva (keratomileusis)
que visa modificar as faculdades ópticas do olho alterando a curvatura da
córnea, corrigindo, deste modo, a miopia, hipermetropia, astigmatismo. Existem
outras operações (ou modalidades) refractivas tais como PRK (de "quératectomia
foto-refractiva", Excimer, LASEK (uma operação mais próxima do PKR que
do LASIK), Epi-LASIK, Intralase, LASIK wavefront, etc.
Todas as
cirurgias refractivas são invasivas, pelo que as complicações que podem surgir
não podem ser excluídas a 100%. Uma das complicações mais comuns é a secura
ocular devido a uma perda de sensibilidade da córnea, em principio o olho
recupera grande parte da sensibilidade após os primeiros 6 meses, mas existem
pessoas que guardam sequelas e uma secura ocular após anos da operação, o que
demonstra que a recuperação não é sempre suficiente a ponto de evitar uma secura
ocular crónica.
No seio
da Keratos temos várias pessoas que sofrem de secura ocular na sequência da
operação lasik realizada pelo menos há 6 anos, tendo sido estas pessoas aquando
da decisão sobre a operação consideradas como candidatas que reuniam todas as
condições necessárias. Contudo, estas pessoas
conheceram episódios de ulceração que deixam cicatrizes definitivas, perturbando
a visão de forma significativa, sendo de referir que a própria secura por si só
pode ter implicações na qualidade da visão.
Os sintomas que
as pessoas apresentam podem ser confirmados pela superfície da córnea,
diminuição do tempo de ruptura lacrimal (principalmente confirmada pelo teste
fluoresceina), diminuição da sensibilidade da córnea e mesmo uma diminuição da
acuidade visual após correcção (comparativamente às lentes ou óculos).
A causa
principal da secura ocular é perda de sensibilidade (hipoestesia) da córnea
devido ao corte dos nervos (transparentes) durante a operação. Assim sendo, a
secura ocular pós-lasik será uma variante ligeira da queratite neurotrófica,
partilhando com esta patologia algumas dos sintomas.
A redução da
sensibilidade afecta os mecanismos de defesa do olho, como as lágrimas reflexas
produzidas após uma agressão, a produção aquosa, lipídica e des
mucinas,
frequência do pestanejo, entre outros. Na ausência da sensibilidade, os sinais
nervosos que permitem despoletar o funcionamento dos mecanismos de defesa não
existem na forma adequada. Há que não esquecer ainda de que o funcionamento
lacrimal depende do funcionamento entre as glândulas lacrimais, superfície
ocular e o sistema de comunicação de alertas : os nervos. Estes olhos, tais como
os olhos neurotróficos sofrem de secura mas não se
ressentem de imediate.
Mais existem outros estudos que sugerem que
estão em causa outros mecanismos relacionados com a hipoestesia
A questão
essencial que se coloca à saúde pública é se será razoável continuar a propor
esta operação de forma generalizada sem saber, à priori, como solucionar as
potenciais implicações de longo prazo, e sabendo que o envelhecimento aumenta os
sintomas de secura e de perda de sensibilidade e reduz as capacidades de
regeneração e defesa da superfície ocular. Aliás, o que se prevê que possa
acontecer às pessoas operadas que ficaram com sequelas crónicas à medida que a
idade avança? A medecina moderna ainda não reuniu a experiência necessária para
isso.
Há que não
esquecer que as pessoas que são operadas não podem ser dadores de córnea o que
indica, primeiro que a operação altera as propriedades da córnea e segundo que o
número de dadores irá diminuir fortemente face ao elevado número de operações
que são realizadas actualmente.
Um estudo desenvolvido pelo célebre Dr.
Tseng, afirma que a "natureza do olho seco persistente após o lasik é atribuído
a uma diminuição das lágrimas, deficiência aquosa sob-corrigida e uma
deficiência lipídica não reconhecida.
Lipid tear deficiency in persistent
dry eye after laser in situ keratomileusis and treatment results of new
eye-warming device. Di Pascuale MA, Liu TS, Trattler W, Tseng SC. Ocular Surface
Center, Miami, Florida 33173, USA. Cataract Refract Surg. 2005
Sep;31(9):1741-9. PMID:
16246778.
Um outro estudo de Plugfelder e
al. afirma que "o olho seco surge frequentemente após a cirurgia Lasik nos
pacientes com historial de olho seco. O risco de desenvolvimento do olho seco é
correlacionado com o grau de miopia antes da operação e a profundidade
do tratamento por laser.":
The
incidence and risk factors for developing dry eye after myopic LASIK. De Paiva
CS, Chen Z, Koch DD, Hamill MB, Manuel FK, Hassan SS, Wilhelmus KR, Pflugfelder
SC. Am J
Ophthalmol. 2006 Mars;141(3):438-45.
PMID: 16490488
Sobre o papel que o NGF poderá ter
sobre o tratamento do olho seco pós-lasik :
The
effect of nerve growth factor on corneal sensitivity after laser in situ
keratomileusis. Joo MJ, Yuhan KR, Hyon JY, Lai H, Hose S, Sinha D, O'Brien TP,
Wilmer Eye Institute, The Johns Hopkins Hospital, Johns Hopkins Bloomberg School
of Public Health, Baltimore, MD, USA, Arch Ophthalmol.
2004
Sep;122(9):1338-41.
Estudo realizado por um painel de
especialistas de cirurgia refractiva da Associação Americana de Oftalmologia
afirma que os efeitos secundários como a secura ocular, halos nocturnos e a
redução da sensibilidade da córnea surge
de forma relativamente frequente":
Laser
in situ keratomileusis for myopia and astigmatism: safety and efficacy: a report
by the American Academy of Ophthalmology. Sugar A, Rapuano CJ, Culbertson WW,
Huang D, Varley GA, Agapitos PJ, de Luise VP, Koch DD. Ophthalmic Technology
Assessment Committee 2000-200, Refractive Surgery Panel.
Ophthalmology. 2002 Jan;109(1):175-87.
Outros artigos:
LASIK
and dry eye. Toda I. Minamiaoyama Eye Clinic, Tokyo, Japan.
Compr Ophthalmol
Update. 2007 Mar-Apr;8(2):79-85.
The
effects of LASIK on the ocular surface. Solomon R, Donnenfeld ED, Perry HD, From
Ophthalmic Consultants of Long Island, Rockville Centre, New York.
Ocular Surface. 2004
Jan;2(1):34-44.
Ver igualmente a secção de
Testemunhos.
Em particular,
poderá
ler o testemunho
Post-LASIK
em português.
Se desejar poderá falar-nos da sua doença e
sobretudo testemunhar as suas consequências.