Definição:
Trata-se de um tipo de
patologia, pertencente à família das doenças da superfície ocular, caracterizada
por uma anomalia/perda de sensibilidade da córnea associada a um deficit do
metabolismo e da vitalidade do epitélio, que conduz a uma cicatrização
inadequada (perda de transparência/neovascularização da córnea que é normalmente
desprovida de vasos sanguíneos para assegurar a transparência) após uma lesão,
agressão e em certos casos mesmo na sua ausência.
A
perda de sensibilidade pode ser total (anestesia da córnea) ou parcial
(hipoestese da córnea).
A sensibilidade pode ser a vários níveis e mais ou menos importante segundo o
tipo de sensibilidade em questão (dor, quente, frio, etc...).
As
principais complicações
são
as seguintes:
Foi descrita no final do
século XIX (Magendie, 1824) e inicia-se por uma erosão epitelial recorrente
depois de um trauma ligeiro ou mesmo espontaneamente, e evolui através de um
processo de ulceração grave e profundo. Geralmente aparece uma úlcera central ou
próxima do centro da córnea sem reais sintomas inflamatórios e uma dor menor do
que aquela que podemos ter com a maior parte das úlceras da córnea (pelo menos é
o que dizem os médicos!).
Caracteriza-se por erosões
epiteliais recorrentes devido a perda de sensibilidade, muitas vezes associada a
um deficit lacrimal.
Diagnóstico:
Para ajudar o diagnóstico,
além das consequências oculares facilmente observáveis, pode ser útil fazer um
simples teste de sensibilidade de contacto, assim como a instalação de um
colírio mediátrico ligeiramente irritante. A história médica do paciente é
essencial para explicar o dano da ramificação oftálmica do nervo trigémio
(acidente ou cirurgia que afectou o trigémio, doença degenerativa, diabetes ou
outras danos neurológicos, etc.).
Causas:
Existem vários tipos de
danos ou doenças sistémicas e oculares que podem provocar uma neurodistrofia,
tais como:
-
Danos no
nervo trigémio, resultantes de acidentes ou de cirurgias, tais como a
rizotomia (para aliviar as nevralgias faciais) ou a extracção do tumor benigno
do nervo auditivo (neurinoma do acústico);
-
Diabétes
mellitus;
-
Queimaduras químicas ou exposição a fumos químicos;
-
Esclerose
em placas;
-
Consequências do abuso de medicamentos como analgésicos locais e
anti-inflamatórios não esteróides;
-
Infecções
oculares virais como o herpes zoster ou simplex ;
-
Transplante da córnea (queratoplastia) ou outra cirurgia da córnea;
-
Cirurgia
refractiva (LASIK);
-
Uso
intenso
de lentes de contacto.
Por último, apesar de ser
raro, pode também tratar-se de um sintoma de uma doença congénita ou hereditária
(disautonomia familiar).
Contexto neurológico:
A córnea tem a maior
densidade de nervos sensoriais, sendo o tecido humano mais sensível. Todavia, a
rede de inervação corneana continua em parte desconhecida. Uma das principais
razões é que as córneas recuperadas dos cadáveres servem essencialmente para
realizar transplantes (ainda que as necessidades não sejam satisfeitas) e poucas
são destinadas à pesquisa.
A córnea é um tecido que
sofre constantemente agressões exteriores (vento, pó, fricção das pálpebras,
etc…), sendo uma córnea insensível menos capaz de se proteger. Mas a simples
perda de sensibilidade ou de percepção de dor não explica tudo, pois apesar da
integridade da córnea ser assegurada graças à sensibilidade, o mecanismo exacto
como tal se processa não é ainda bem conhecido. De qualquer modo, sabe-se que a
sensibilidade é essencial ao processo de regeneração constante e de cicatrização
da córnea, e que a perda de sensibilidade conduz a uma diminuição da
proliferação de células provenientes do limbo, a um abrandamento do metabolismo
da mitose (divisão) das células da córnea e diminuição dos níveis de
acetilcolina.
Sintomas, consequências
sobre a visão:
As rupturas frequentes do
epitélio defeituoso, têm
como consequência o retardamento, ou mesmo a incapacidade, da cicatrização.
Geralmente, a perda de sensibilidade é acompanhada de uma redução da função
lacrimal e até mesmo uma diminuição do acto de pestanejar, o que conduz a uma
secura ocular, problema que agrava ainda mais o cenário inicial.
Em termos de visão, a perda
de sensibilidade corneana pode conduzir à opacificação total devido a numerosas
cicatrizes (seguido de erosões) ou a uma úlcera neurotrófica perfurante que nos
casos mais graves pode conduzir à cegueira total. Muitas vezes as várias lesões
originam um astigmatismo irregular.
Assim sendo, os principais
sintomas são : úlceras neurotróficas (não inflamatórias), erosões recorrentes,
secura ocular, fotofobia extrema, neovascularização da córnea, opacidade da
córnea, etc...
Tratamentos:
O tratamento habitual
consiste numa lubrificação agressiva (que
difere pouco da lubrificação necessária à secura ocular grave), a
tarsoterapia (fechar totalmente ou uma parte da córnea com as pálpebras),
contudo estes tratamentos revelam-se muitas vezes insuficientes. Em certos
casos, na sequência de uma perfuração devido a uma úlcera, é necessário realizar
um transplante de córnea, o qual não recupera a visão funcional mais permite
salvar a integridade do olho, contudo,
frequentemente,
o transplante tem vários riscos neste contexto.
Outros Conselhos:
A maior parte dos
conselhos para estes casos são semelhantes
aos da secura ocular,
quer
em termos dos factores de risco a evitar ou mesmo nos suplementos lacrimais ou
na hidratação em geral a
utilizar.
Nomeadamente quanto a utilizar
produtos com conservantes.
As córneas neurotróficas
que sofrem de secura ocular devem beneficiar de
outras
abordagens e produtos para minorar as consequências da secura ocular,
os quais não estão ainda disponiveis na Europa.
Novos Tratamentos:
A cura destas patologias
será possível no dia em que se consiga restabelecer a sensibilidade da córnea ou
pelo menos quando os mecanismos que asseguram a sua regeneração, bem como o bom
funcionamento do sistema lacrimal sejam compreendidos de forma a poderem ser
reproduzidos artificialmente.
Assim sendo, dedicou-se um
capítulo para os tratamentos que visam a re-inervação da córnea, restabelecer o
metabolismo normal da córnea e melhorar a cicatrização dos olhos
"neurodistróficos".
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